Texto
TUMOLO, Paulo Sergio*
...[o operário] não sabia que a casa que ele fazia sendo a sua liberdade era a sua escravidão
Vinícius de Moraes
Alguns movimentos sociais, que têm ocupado papel central no cenário político brasileiro contemporâneo, vêm buscando desenvolver, em seu seio, propostas de educação que se pretendem inovadoras e progressistas, balizadas pelo lema do trabalho como princípio educativo. Tal é o caso, pelo menos, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, o MST1, e da Central Única dos Trabalhadores, a CUT2. Como se trata apenas de um lema, que carece de precisão e consistência teóricas, as concepções a seu respeito são as mais variadas e desencontradas3, o que o torna um assunto, no mínimo, controvertido. Ademais, a proposição tem sido alvo de tantas discussões, principalmente na CUT a partir da segunda metade dos anos 90 quando esta começou a implantar seus projetos de formação profissional, que merece ser analisada com mais atenção e profundidade.
Antes, porém, de ter se tornado um elemento basilar de propostas educacionais de movimentos sociais, o trabalho como princípio educativo, no bojo das análises acerca da relação entre educação e trabalho, foi um dos temas mais recorrentes no Brasil, nos anos 80 e início dos 90 do século 20, entre os pensadores da educação, sobretudo aqueles que se apoiavam num referencial teórico-político marxista, com enfoque em Gramsci4. Como escapa aos propósitos deste texto apresentar as abordagens realizadas pelos numerosos autores que se ocuparam do referido assunto5, destacarei uma citação de um deles, uma vez que sintetiza a concepção presente no conjunto dos referidos estudiosos e serve de base, em grande medida, para as propostas educativas dos referidos movimentos sociais. Num trecho de uma entrevista concedida à Revista Bimestre, Saviani assim resume os fundamentos conceituais da