Texto olhar a Criança - Laerthe de Moraes Abreu Junior
Laerthe de Moraes Abreu Junior
A menina de três anos, aproximadamente, sobe sozinha os quatro degraus e entra toda alegre no micro-ônibus que está parado no ponto final. Seguem-lhe, atrás, seus pais, jovens e diligentes, como pensam ser os pais que se pensam modernos e atenciosos. A criança, que entrou pela única porta – e que se situa na parte da frente do ônibus – segue em frente para o banco de trás dizendo confiante para si mesma (mas os pais estão como os ouvidos atentos): “Vou lá pra frente!”. Imediatamente o zeloso pai corrige: “Lá, é atrás!”. Eu, que nesta circunstância, apenas sou um cidadão a mais, desconhecido e meio invisível para aqueles pais, mesmo vestido de bermudas, camisetas, sandálias e boné, sem nenhum crachá de autoridade sobre a infância, só posso observar silenciosamente, mas penso muito sobre o ocorrido. Penso que nós – adultos em geral – pouco sabemos sobre o pensamento infantil. Construção difícil, dura, árdua, cotidiana, irregular, desequilibrada... Se nós – adultos educadores – assumimos de forma muito rígida nosso papel – sempre bem intencionados, diga-se de passagem – de corrigir apressadamente os “erros” infantis, para apontar a maneira correta de a criança se expressar – e é claro que devemos ser capazes e estar atentos para corrigir os ditos “erros” da infância tanto ao se expressar quanto ao se comportar – não deixaremos a criança nem só se expressar voluntariamente como poderemos mesmo sem intenção impedi-la de tentar – ela mesma – corrigir seus erros. Vejamos por que. O desenvolvimento infantil se combina com a aprendizagem. É difícil dizer qual dos dois comanda o outro! O desenvolvimento (e também a aprendizagem) é processual. Acontece ao longo do tempo, tempo indeterminado. Mesmo quando pensamos não estar interferindo (diretamente) nas ações infantis, só o fato de observar, já é uma forma de intervenção (indireta). A criança sabe que o adulto a olha e, também, olha por ela. No íntimo, ela sente