Texto Literário
O texto literário é antes de tudo um jogo de linguagem, no qual pode aparecer tanto quanto o próprio conteúdo veiculado. Como esta linguagem artística é opaca, isto é, retém o olhar sobre si, antes de conduzi-lo ao objeto retratado, ela aparece como parte do objeto.
O texto literário se opõe a diversas modalidades de texto, quer sejam elas científicas, informativas ou pragmáticas. Estaria um tanto próximo do texto coloquial, como a fala do dia-a-dia, bem mais complexa do que as outras, porque contém em si a semente e a soma de todos os registros do falante. Ela, a linguagem do dia-a-dia, é um pouco científica, informativa, e um pouco inventiva, artística. É pragmática e também emotiva, especulativa – lúdica. É da sua riqueza esquecida por entre as frases cotidianas que se constroem os primeiros jogos de sentido da arte verbal. É no saber arcaico da linguagem coloquial que se procuram as pedras que servem de base para as torres da dicção artística. No texto literário a linguagem é opaca; ela não apenas refrata, distorce ou redimensiona o objeto, como retém o olhar sobre si mesma, compartilhando a atenção do leitor com o objeto que constitui o plano do conteúdo da obra. A tessitura do texto não permite de pronto visualizar o objeto focado, assumindo o lugar de extensão complementar.
“Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhoso espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti...”