Texto 3 O desafio do pac fico E MAIL
O DESAFIO DO PACÍFICO
V i v e m o s e m v o l t a de u m m a r c o m o rãs em t o r n o de u m charco.
Platão,
Fédon
Capítulo
Vinte
OS VIGILANTES AO AMANHECER:
"Modernização" no Japão
Os comedores de baleias — A revolução dos samurais — 0 cais flutuante — Um marco no mundo —As ruínas do
Pavilhão Dourado
OS COMEDORES DE BALEIAS
A aventura da caça a baleia não e algo muito apreciado atualmente. Os caçadores são denunciados em camisetas e adesivos para carros. Nas lojas de brinquedos, vendem-se baleiazinhas atraentes. Utilizam-se gravações de sons de baleias para tranqüilizar bebês humanos ainda no ventre materno. O Leviatã se transformou em valioso e amistoso companheiro do homem, palrador e mimado, enquanto suas antigas conotações de monstros aterrorizantes foram transferidas aos baleeiros. Os heróis das paisagens marinhas e dos relatos que a caça de baleias costumava inspirar — imagens de triunfo coletivo sobre um destino que espreita em circunstâncias mortíferas, conseguido graças à disciplina de homens dedicados — são agora os vilões de uma saga moderna de valores ecológicos reajustados. Por serem quase os últimos consumidores de baleia no mundo, os japoneses têm sido objeto de muitas condenações. O ressentimento com as censuras vindas de fora tem feito da predileção pela carne de baleia um símbolo de
patriotismo no Japão e transformado os filés flácidos e insípidos numa iguaria de grande reputação.
A repulsa ao aspecto de aventura da caça à baleia provavelmente começou com a prática dos próprios pescadores. As angústias acerca da conservação e o sentimentalismo em face da vítima vieram mais tarde. Quando, em 1851, H e r m a n n Melville escreveu Moby D/ck, o romance mais cativante e comovedor de todos os que têm baleias como tema, a batalha entre os caçadores de baleias e sua presa ainda era bem equilibrada entre o animal bruto e a tecnologia primitiva. Para Melville, a pesca da baleia era um oficio de "dignidade imperial", mas os