Terror atomico
Qual a justificativa dos americanos para as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki? O presidente Harry Truman, que tomou a decisão final de usar as bombas, disse que elas salvaram vidas. Segundo essa tese, a continuação da guerra e a invasão das ilhas nipônicas por tropas americanas teriam causado mais mortes do que os dois artefatos nucleares. É muito pouco provável que isso seja verdadeiro. Mesmo que fosse, os Estados Unidos não precisariam ter tido tanta pressa em lançar a segunda bomba. Poderiam ter feito um esforço diplomático para obter a rendição japonesa diante do horror da primeira explosão. O segundo ataque ocorreu apenas três dias depois do primeiro. O Japão rendeu-se cinco dias após a segunda carnificina.
Não há dúvida, porém, de que as bombas salvaram vidas americanas. Será legítimo matar, ferir gravemente e mutilar dezenas e dezenas de milhares de civis do lado inimigo para salvar um número bem menor de seus próprios soldados? Esta não é uma pergunta retórica, aquele tipo de indagação que se faz, na verdade, para estabelecer um argumento. É uma pergunta autêntica, que demanda uma resposta. Algumas pessoas podem achar que é eticamente válido fazer uma distinção entre vidas do nosso lado e vidas do outro lado: as pessoas do lado de cá seriam mais preciosas, mais merecedoras de viver do que as do lado de lá. Portanto, podemos matar vinte deles para salvar um dos nossos. Você concorda? Há que se considerar, ainda, que os ferimentos causados por uma bomba atômica podem ser especialmente cruéis, como vimos nos dois relatos publicados na semana passada.
Os Estados Unidos tiveram mais um motivo, muito menos confessável, para jogar as bombas. Com a guerra encerrada na Europa, a União Soviética declarou guerra ao Japão e atacou posições japonesas na China e na Coréia. Com o prolongamento da guerra no Extremo Oriente, os soviéticos poderiam ter chegado ao norte do Japão, enquanto os americanos invadiam o centro e o sul. Como a