Teoria do rádio_Bertold Brecht
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Teoria do rádio (1927-1932) – Bertolt Brecht*tradução de Regina Carvalho e Valci Zuculoto
I.O rádio: uma descoberta antediluviana?
Lembro como ouvi falar do rádio pela primeira vez. Foram notícias irônicas de jornal sobre um furacão radiofônico completo, cuja missão era arrasar a América. No entanto, tinha-se a impressão de que se tratava de assunto não apenas da moda, mas realmente moderno.
Esta impressão se desvaneceu muito rápido, quando também tivemos ocasião de ouvir rádio. Naturalmente, a princípio ficava-se maravilhado e se perguntava de onde procediam aquelas audições musicais, mas logo tal admiração foi substituída por outra: perguntava-se que tipo de audições procediam do éter. Era um triunfo colossal da técnica, poder colocar por fim, ao alcance do mundo inteiro, uma valsa vienense e uma receita de cozinha. Como quem diz com toda segurança.
Coisas da época, mas com que objetivo? Recordo uma velha história em que se queria demonstrar a um chinês a superioridade da cultura ocidental. O chinês perguntou: “que tendes?” Responderam-lhe: “Estradas de ferro, automóveis, telefone”. “Sinto ter que lhes dizer – replicou o chinês cortesmente – que isso nós já tratamos de esquecer.”
No que diz respeito ao rádio, tive, em seguida, a impressão terrível de que é um aparelho incrivelmente velho, que ficou relegado ao esquecimento pelo Dilúvio Universal. Temos o velho hábito de ir sempre ao fundo de todas as coisas, para saber das vantagens que podem possibilitar, mesmo quando se trata dos risos mais sem graça da rua. Fazemos um consumo descomunal de coisas cujas vantagens podemos examinar. E temos muito poucas pessoas dispostas a renunciar a elas, como neste caso do rádio.
O fato é que sempre nos deixamos levar apenas pelas possibilidades e nela emperramos. Estas, que vocês vêem se levantar por onde quer que seja, têm colhido de surpresa, sem dúvida, a uma burguesia completamente esgotada, gasta por façanhas e más ações. Enquanto tal burguesia as