Teológia
Economia e religião na Idade Média
O usurário: entre o céu e o inferno, o purgatório
Neste livro, Jacques Le Goff mostra ao leitor como foi a usura na Idade Média, como era vista pela população e, principalmente, pelo clero, que era “quem” decidia quem iria para o céu ou para o inferno.
Le Goff acerta muito bem na colocação do título deste livro, pois, de certa forma, resume a ideia principal do livro, a Bolsa simbolizando o dinheiro ilícito, o dinheiro adquirido na usura, e a Vida simbolizando a redenção, a salvação, a vida eterna.
Mas ia vendo uma bolsa a seus peitos bem segura, cores mostrando e insígnias juntamente, cuja vista, parece, os transfigura. [não grifado no original]
(Dante citado por Le Goff, p. 35)
A usura foi considerada pecado na Idade Média, devido principalmente a dois fatores: era considerado roubo, de acordo com a Bíblia, que era um dos guias da população na época, e outro fator, mais importante, é o fato de o usurário ser considerado um “ladrão de tempo”, esse tempo seria o tempo entre o dia do empréstimo e o do pagamento, quando o usurário acrescentaria juros ao que emprestou, e nesse tempo que se passou, o usurário ganharia dinheiro sem nada fazer. Sendo o tempo algo divino, “grátis”, estaria o usurário roubando de Deus e vendendo este tempo a seus “clientes”.
Estes dois fatores estão sustentados sobre o juro, ou melhor, sobre o juro em excesso, já que os juros eram permitidos, porém, o excesso de juros caracterizava a usura. Nas palavras do próprio Le Goff, a “usura e juro são duas coisas diferentes, e a igreja nunca condenou todas as formas de juro” (p. 70).
Sendo o usurário um pecador, o único lugar para onde vai depois de morrer é o inferno. Mas havia uma maneira de “escapar” do inferno, que seria se confessando, arrependendo-se, e devolvendo tudo que “usurou”. Posteriormente, com a “criação” do purgatório, havia a possibilidade de outra pessoa se redimir no lugar do usurário,