Summertime Sadness
"Naquela época a coragem era algo que somente homens possuíam. As mulheres não poderiam em hipótese alguma tomar partido de qualquer ato, fosse ele inofensivo ou ofensivo e isso tornava todos os sentimentos que eu possuía cada vez mais complicados.
Crescer ao lado da melhor amiga e acabar se apaixonando por ela não era algo fácil de lidar, ainda mais quando sua mãe é falecida e você é a filha mais jovem entre três irmãos homens. Não era algo que eu pudesse escolher, porque foi completamente natural para ambas, na mocidade era mais fácil se relacionar com garotos porque a influência era muito grande, mas depois de crescer foi ficando cada vez mais complicado esconder todas as coisas que eu possuía dentro de mim.
Ela tinha um perfume de rosas e os olhos mais azuis que o céu, talvez aquele pudesse ser um reflexo do paraíso ou a personificação do próprio. Sua pele era macia como um veludo e era impossível não me arrepiar a cada vez que minha mão passeava pelo seu rosto e quando ela enrugava o nariz eu saberia que era meu fim ao ver uma expressão tão comum se tornar mágica e perfeita. Todas as vezes que eu olhava dentro do paraíso, como eu apelidei seus belos olhos, sentia como se fosse transportada à outra dimensão ou outro mundo, um mundo somente nosso, onde nenhuma explicação deveria que ser dada, nada precisava ser esclarecido.
Era difícil explicar às pessoas o porquê eu morava com minha prima. Não poderíamos nos assumir na região onde morávamos então mudamos de estado, porém conforme o tempo ia passando, as pessoas começavam a perceber que algo estava errado, então nos mudávamos novamente. Doía saber que eu nunca poderia segurar sua mão em público como qualquer casal normal, porque em uma época com tanta ditadura a última palavra que a sociedade usaria para nos classificar seria “normal”, eles usariam qualquer outro adjetivo, menos esse. Mas quando eu a abraçava e ela sussurrava palavras de conforto em meu ouvido todos os tipos de males