Sudeste Real
Fazendeiros do Rio, de São Paulo e de Minas reuniram milhares de milicianos para abafar revoltas contra D. Pedro e garantir sua permanência no Brasil
Eduardo Schnoor
Passar de Reino a Colônia
É desar (derrota)
É humilhação que sofrer jamais podia brasileiro de coração
Na boca do povo, a quadrinha refletia o temor vivido no Brasil depois do retorno de D. João VI a Portugal, em 24 de abril de 1821. Apesar de ter deixado seu filho Pedro como regente, o soberano, de volta à terrinha, poderia adotar novas políticas centralizadoras, e até mesmo devolver o Brasil à condição de colônia.
Acirrava-se o antagonismo entre “brasileiros” e “portugueses”, até que, em dezembro daquele ano, veio de Lisboa uma ordem que deixou a situação ainda mais delicada: as Cortes determinavam o retorno de D. Pedro. Se ele acatasse, tudo poderia acontecer. As províncias seguiriam cada uma seu próprio caminho, ou, pior, como dizia a imperatriz Leopoldina, “uma Confederação de Povos no sistema democrático como nos Estados Livres da América do Norte”, referindo-se à independência dos Estados Unidos, ocorrida em 1776.
A Independência do Brasil, sob o comando de D. Pedro, parecia a única forma de evitar o risco de instalação de um regime republicano por aqui. Mas era preciso agir rápido, pois as tropas portuguesas ameaçavam embarcar o príncipe à força. Quem poderia enfrentá-las? A resposta coube aos principais senhores de terra de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Mobilizando tropas de milícias, eles estavam dispostos a pegar em armas para defender D. Pedro. E foi o que fizeram.
Paulo Barbosa da Silva, mineiro de Sabará, e Pedro Dias Pais Leme, fazendeiro em São João Marcos – importante comarca fluminense –, deslocaram-se por Minas Gerais e São Paulo para conseguir adeptos à permanência do príncipe. Tratavam com sua rede de conhecidos, que não era pequena: fazendeiros, tropeiros, boiadeiros e comerciantes que enriqueceram na economia mercantil de subsistência