sonho
Ann Faraday, uma psicóloga americana especializada em sonhos, tem um bom exemplo dessa habilidade poética. Ela estava para ser entrevistada no programa de rádio de um certo Long John Nebel. Aí, na noite anterior, sonhou que um sujeito de ceroulas a ameaçava com uma metralhadora. Símbolo fálico, desejo sexual enrustido... Tem tudo aí. Mas não. A interpretação dela foi bem mais direta. Long John é "ceroula" em inglês, e o apresentador era conhecido por ser particularmente ferino. O sujeito de roupas íntimas, então, era uma metáfora que o cérebro dela arranjou para o nome do sujeito; e a metralhadora, uma para o medo que ela sentia de ser agredida na entrevista. Só isso.
E tudo isso. "Podemos aprender sobre as emoções que nos guiam na vida real se prestarmos atenção nos sonhos", diz o psiquiatra J. Allan Hobson, de Harvard. O exercício aí é tentar decifrar as metáforas dos sonhos, encontrar quais elementos da sua vida estão por trás delas - uma tarefa profunda e pessoal em que nenhum dos dicionários de sonhos já feitos desde a invenção da escrita vai poder ajudar.
E nem sempre será fácil. A psicóloga americana Rosalind Cartwright, por exemplo, concluiu algo paradoxal com base em anos de estudos: que os rejeitados num relacionamento que mais sonham com o ex são os que se recuperam mais rápido do baque da separação. Isso casa bem com as pesquisas de Stickgold: talvez seja o cérebro maquinando formas de lidar com o rompimento, dando um jeito de aliviar a dor. Mas não dá para ter certeza, só especular. Ainda há certas coisas entre a vida real e os sonhos que estão além da ciência. Para