sexualiade
HOMEM DE BRANCO - Preto.
HOMEM DE PRETO - Branco.
BRANCO – Por que não uma mistura dos dois?
PRETO – Vem você com essa sua absurda mania de conciliação. Essa volúpia pelo entendimento. Essa tara pelo meio-termo!
BRANCO – Se não fosse isso, nós não estaríamos aqui. Foi minha moderação que nos manteve longe de brigas. Foi minha ponderação que nos preservou. Se eu fosse atrás de você…
PRETO - Nós teríamos vivido! Pouco, mas com um brilho intenso. Teríamos dito tudo que nos viesse à cabeça. Distinguido o pão do queijo com audácia. Colocado pingos destemidos em todos os “is”. Dado nome e sobrenome a todos os bois!
BRANCO – Em vez disso, fomos civilizados. Isto é, contidos e cordatos.
PRETO – E temos os tiques nervosos para provar.
BRANCO – Você preferiria ter dito a piada que magoaria o amigo? A verdade que destruiria o amor? O insulto que nos levaria ao setor de traumatismo do Pronto Socorro?
PRETO – Preferiria. Para poder dizer que não me calei. Para poder dizer “Eu disse!”.
BRANCO -Ainda bem que não é você que manda em nós.
PRETO – Não, é você. Sempre fazemos o que você determina. Ou não fazemos. Não dizemos. Não vivemos! Estou dentro de você, fazendo, dizendo e vivendo só em pensamento. Se ao menos eu pudesse sair aos sábados…
BRANCO – Para que, para nos matar? Pior, para nos envergonhar?
PRETO – Melhor se envergonhar pelo dito e o feito do que pelo não dito e o adiado. Você sabe que cada soco que um homem não dá encurta a sua vida em 17 dias? E, cada vez que um homem pensa