Saúde metal e trabalho
Saúde mental & trabalho leituras W EDITORA VOZES
Petrópolis 2002
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Psicodinâmica do Trabalho
Álvaro Roberto Crespo MerloM
As origens A percepção de que o trabalho pode ter conseqüências sobre a saúde mental dos indivíduos é muito antiga. Podemos encontrá-la no clássico "Tempos Modernos" de Charlie Chaplin - sensível à violência produzida pelas transformações contemporâneas do taylorismo e do fordismo sobre os trabalhadores —, até nos não menos clássicos estudos acadêmicos dos "pais" da Sociologia do Trabalho, Georges Friedman e Pierre Naville (1962), onde relatam as conseqüências do trabalho em linha de montagem. Nas origens da Psicodinâmica do Trabalho, temos os estudos de Le Guillant (1984), que, durante os anos 50, realizou as primeiras observações sistemáticas que lhe permitiram estabelecer relações entre trabalho e Psicopatologia. Seu trabalho mais citado foi feito em 1956 sobre a atividade de telefonistas em Paris, no qual o autor diagnosticou um distúrbio que ele nomeou como Síndrome Geral de Fadiga Nervosa, caracterizada por um quadro polimórfico que incluía alterações de humor e de caráter, modificações do sono e manifestações somáticas variáveis (angústia, palpitações, sensações de aperto torácico, de "bola no estômago", etc). O autor falava, ainda, da invasão do espaço fora do trabalho por hábitos do trabalho que ele chamou de Síndrome Subjetiva Comum da Fadiga Nervosa. Esta última síndrome caracterizava-se pela manutenção do ritmo de trabalho durante as férias, manifestando-se pela sensação de irritação, por uma grande di54. Médico, Doutor cm Sociologia (Paris VII), Professor da Faculdade de Medicina e dos Programas de Pós-Graduações em Psicologia Social e Institucional e em Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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Primeiro movimento: em busca do trabalho
ficuldade para ler em casa e pela repetição incontrolável de expressões verbais do trabalho (Le Guillant, 1984: 382).