Santa maria e a imprensa
A mídia, que tem o propósito de explorar a reação emotiva gerada pelo crime (Durkheim), só olha o passado e se esquece do futuro. Tão relevante quanto punir o passado é preservar vidas no futuro.
É claro que a repressão dos crimes, especialmente quando mais de 240 vidas se perderam tragicamente, é esperada, mas, sozinha, isolada, constitui fruto de uma política criminal equivocada. Nenhum país do mundo civilizado jamais abandonou a repressão. Mas constitui um erro crasso (ou pura demagogia) imaginar – como alguns editoriais jornalísticos imaginam - que apenas ela possa prevenir a criminalidade. O efeito preventivo da pena, consoante todas as pesquisas científicas [2], é diminuto e humilde (para não dizer ridículo). E quem diz o contrário é ignorante (porque não conhece a ciência criminológica) ou mentiroso (ludibriador da população). A Justiça e a polícia, sobretudo nos países em desenvolvimento, funcionam muito precariamente. Nenhum país do mundo jamais conseguiu punir todos os crimes. O tolerância zero (como filhote do neoconservadorismo norteamericano dos anos 70), ao transmitir a sensação de que todos os crimes serão punidos, constitui uma utopia reacionária (sem pé, nem cabeça). É uma ilusão, um engodo das democracias contemporâneas. Não mais do que 5% dos crimes são punidos (e isso em praticamente o mundo inteiro). Claro que em países mais desorganizados, como o Brasil, o índice é menor.
Se a Justiça e a polícia funcionam precariamente, lentamente, por que nos iludimos tanto com a atividade repressiva? A mídia tem uma resposta: razões comerciais. É evidente que a repressão é indispensável,