rimbaul
5309 palavras
22 páginas
Revista AduspDezembro 2001
RIMBAUD
E A
COMUNA DE PARIS
O TEMPO DE “O BARCO BÊBADO”
Marcos Silva de Escrito em
1871 e apresentado a
Paul Verlaine em novembro desse ano, seis meses após o esmagamento da
Comuna, o poema de Arthur Rimbaud
“O Barco
Bêbado”
apresenta uma 18
Professor do Departamento de História da FFLCH-USP
História, com seu personagem que nasce, aprende, enfrenta adversidades, sente prazeres, interpreta o mundo, nele interfere e finda morrendo, como os homens e as mulheres Revista Adusp
Dezembro 2001
Um dos mais conhecidos poemas de Arthur Rimbaud é
O Barco Bêbado
Quando eu já descia Rios impassíveis,
Não mais me senti preso a guias e galés:
Pels-vermelha a gritar os encrivaram, críveis,
Todos crus alvos nus nos totens de pincéis.
Em nada me importava quem eu carregara
Com o trigo flamengo ou o algodão inglês.
Como toda a zoada com os guias finara,
Rios me liberaram escolher fluxo e vez.
Nos clamores, ímãs e furor das marés,
Eu, inverno, mais surdo que mentes infantes,
Eu corri! E as Penínsulas, soltos os pés,
Nunca se descarnaram em caos mais triunfantes.
Tempestade bendisse minhas albas marinhas.
Bem mais leve que rolha eu dancei nos torós
Que se diz tornear norte das vitiminhas,
Dez noites, sem buscar o olhar dos faróis!
Mais doce que maçãs em boca de criança,
Água verde invadiu-me a carcaça de lei
E de vômito e vinhos azuis, gosma mansa
Me lavou, desprovido de leme e arpão, sei.
Desde então, é que eu mergulhei no Poema
Do Mar, infusão de astros, um lácteo mar,
Devorando os verde-anis; onde, clara gema,
Arrebatado, um corpo afunda a ensimesmar;
Onde, adensando azuis num só golpe, delírios
E ritmos lentos, rutilamento a se por,
Mais fortes que o álcool ou a lira que mire-os,
Fermentam os rubores amargos do amor!
Sei desses céus rasgando clarões e das trombas,
Das ressacas, correntes: do entardecer,
Da exaltada Alba, qual turba de pombas,
E já vi o que o homem