Revista FAPESP bacteria multicelular
30/6/07
5:28 PM
E
stima-se que mais de um terço da massa de seres vivos na Terra sejam organismos microscópicos que ocupam todos os cantos, dentro e fora de outros organismos. Na maior parte das vezes são bactérias compostas por uma única célula. Mas nem sempre. Agora a equipe de Ulysses Lins, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acaba de descrever na revista International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology uma bactéria descoberta na lagoa de Araruama, no litoral do estado do Rio de Janeiro, que batizaram de Candidatus Magnetoglobus multicellularis. Como o nome indica, são bactérias esféricas com propriedades magnéticas – chamadas de magnetotáticas – e compostas por muitas células.
“Não é a primeira bactéria multicelular nem a única”, explica Lins,“o que ela tem de novo é o fato de não ter uma etapa unicelular no seu ciclo de vida, não ser capaz de responder ao campo magnético quando as células se separam do microorganismo e apresentar uma motilidade que é uma característica do conjunto e não das células individuais”.
A alta salinidade das águas da lagoa de Araruama, uma das maiores lagunas costeiras hipersalinas do mundo, é um desafio à vida. Ainda assim, bactérias conseguem colonizar essas águas hostis,
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que são por isso um prato cheio para microbiólogos como Lins.
O grupo recolhe amostras de água que guarda em frascos fechados até que se formem camadas visíveis, com água no alto e sedimento mais espesso no fundo. Periodicamente a equipe põe uma gota de sedimento numa lâmina e a encaixa em um microscópio, com um ímã ao lado. As bactérias magnetotáticas têm em seu interior minúsculas partículas metálicas que se alinham e funcionam como se fossem ímãs internos. Essa bússola as ajuda, por exemplo, a distinguir para que lado estão as camadas mais profundas e menos oxigenadas do sedimento, seu ambiente favorito. No hemisfério Sul elas nadam sempre para o sul, então um ímã com a extremidade norte