retórica
Allemande-gigueé: análise retórica de danças barrocas das Suítes
Francesas BWV 813 e 816, de J.S.Bach
Euridiana Silva Souza
Introdução
“Uma finitude sem infinito é, sem dúvida, uma finitude que jamais tem fim, que está sempre em recuo em relação a si mesma, a qual resta ainda alguma coisa para pensar no instante mesmo em que ela pensa, a qual resta sempre tempo para pensar de novo o que ela pensou”.
Michel Foucault
Inicio com as belas palavras de Foucault sobre a episteme, o conhecimento em si, com a intenção de focar algo, talvez óbvio, outrora nem tanto, de que jamais um pensamento sobre algum assunto, por mais simples que ele aparente ser, pode ser esgotado. Ele irá sempre pensar a si mesmo enquanto pensa o outro e repensar o seu próprio pensamento sobre si e sobre o outro. É nesse intuito de pensar e repensar que propus a idéia central do presente trabalho: as relações afetivas de tonalidades e estilos de danças barrocas. Cada dança tem seu afeto próprio tal como cada tonalidade. Elas entrariam em concordância ou uma teria certa supremacia sobre a outra? Estas foram questões que me coloquei e para tentar esclarecê-las comparei danças de diferentes estilos e tonalidades. Dado o vasto repertório de danças barrocas, restringi-me a allemandes e gigas das suítes francesas para cravo de J.S. Bach em Dó menor (BWV 813) e Sol maior (BWV 816).
Locus histórico
“Música dançante e ‘dança derivada’ de música formam grande parte da música instrumental barroca” (Palisca; 1991:83)1.
Suíte é uma palavra de origem francesa que pode ser traduzida como seqüência, e que passou a designar, desde o Renascimento, uma seqüência de danças de estilos contrastantes, emparelhadas numa oposição de movimentos lentos e rápidos. A estrutura fixa de uma suíte, que se configurou no início do período barroco, consta de uma Allemande (lenta), uma Courante (rápida), uma Sarabande (lenta) e uma
Gigue (rápida); danças em estruturas binárias que fazem o percurso