Resumo: notas sobre o futebol como situação dramática, de flávio aguiar
Flávio Aguiar
I
Um jogo de futebol acende nos torcedores um universo de sentimentos: ironia, exaltação ou euforia, pânico, agonia, tortura, religiosidade, fome e sede e satisfação ou tristeza. O futebol é onipresente, paraíso recuperado, tenso purgatório, inferno de chutes e palavrões. É um reduto do masculino, em que persegue o feminino ausente – o oco que rola pela grama, que atira e se estira de encontro à rede, que vem de encontro ao peito, que se deixa correr, porém às vezes se chuta com raiva e violência.
II
O espaço do futebol é a totalidade, que é feita de círculos e quadriláteros. O futebol soluciona o problema da quadratura do círculo, embora os quadriláteros não sejam quadrados. O futebol não é um movimento solitário, é um medir-se, diante da circularidade trágica do Universo, diante da contenção do tempo. É um desejo de vencer as limitações do espaço, de alçar peso no corpo, de voar dentro e entre os emaranhados do tempo. O estádio é o círculo maior, o edifício que se vislumbra ao longe não é um concreto, mas sim a lembrança de um tempo que ficou para trás. O círculo do estádio é vazado, onde há três retângulos de entrada (bocas do túnel onde se dá a triunfante entrada e a melancólica ou vitoriosa saída). Nesse momento não há homens pobres, ricos, com preocupações familiares; são apenas jogadores que eletrizam o estádio, que até então estavam os torcedores, como sombras dispersas, também meras lembranças do tempo. Uma das primeiras formas que o futebol desenvolveu foi o WM: o goleiro, dois zagueiros, três médios, três atacantes recuados e dois meias avançados. Essa forma caiu ante a mobilidade do 4-2-4 (quatro zagueiros – dois médios-volantes – quatro atacantes), mas até o WM consagrou-se um início clássico para o futebol. O WM, com sua repetição de triângulos detém relativa imobilidade tática que condena os jogadores. O 4-2-4, de que o 4-3-3 foi uma variação cautelosa, passou a ser figura tática,