Resumo do Livro O Popular
O Popular é uma figura que sempre me intrigou. A foto da Veja mostra um soldado inglês espichado na calçada, protegido pela quina de um prédio, o rosto tapado por uma máscara de gás, fazendo pontaria contra um franco-atirador local. Atrás dele, agachados no vão de uma porta, dois ou três dos seus companheiros, também em plena parafernália de guerra, esperam tensamente para entrar no tiroteio. Há fumaça por todos o lados, um clima de medo e drama. Mas ao lado do soldado que atira em primeiro plano, está o Popular. De pé, olhando com algum interesse o que se passa, com as mãos nos bolsos e um embrulho embaixo do braço. O Popular foi no armazém e na volta parou para ver a guerra. Sempre pensei que o Popular fosse uma figura exclusivamente brasileira. Nas nossas incomodações politicas, no tempo em que ainda havia política no Brasil, o Popular não perdia uma. Os jornais mostravam tanques na Cinelândia protegidos por soldados de baioneta calada e lá estava o Popular, com um embrulho embaixo do braço, examinando as correias de um dos tanques. Pancadaria na Avenida? Corria polícia, corria manifestante, corria todo mundo, menos o Popular. O Popular assistia. Cheguei a imaginar, certa vez, uma serie de cartuns em que o Popular aparecia assistindo ao Descobrimento do Brasil, a Primeira Missa, ao Grito da Independência, à Proclamação da República... Sempre com seu embrulho embaixo do braço e de camiseta esporte clara para fora das calças. Não se deve confundir o Popular com o Transeunte, também conhecido por passante. O Transeunte as vezes leva uma bala perdida, o Popular nunca. O Transeunte as vezes vai preso por engano, o Popular é que fica assistindo a sua prisão. O Transeunte pode se entusiasmar momentaneamente com uma frase de comício ou drama na rua, e ai o Popular fica olhando para o Transeunte. O Popular não tem opinião sobre as coisas. Quando o rádio ou a televisão resolvem ouvir “a opinião de um popular” na rua, sempre se enganam. O Popular nunca é o