Resumo de livro
A laicização da literatura, na época moderna, instalada com o Romantismo e servindo de legitimação à burguesia, muda a concepção da leitura. O resgate da dimensão social da literatura, pela burguesia, tem repercussões até nossos dias. A nova escritura, além de atingir e influenciar o público adulto, privilegia textos direcionados às crianças com o intuito modificar o comportamento infantil ao reforçar os valores sociais vigentes que são apresentados como modelos a serem assimilados e seguidos.
Portanto, não é temerário afirmar a função social da literatura infantil, pois é na infância que se forma o hábito da leitura. Nos seus primórdios, a literatura para crianças tem função formadora: apresenta modelos de comportamento que facilitam a integração da criança na sociedade. Lajolo e Zilberman (1999) acreditam que a valorização da família na sociedade burguesa é a mola mestra que transforma a leitura em prática social, quando constitui atividade privada nos lares tendo o livro como instrumento ideal para a formação da moral burguesa. Desde então, segundo as Autoras, “ser leitor, papel que, enquanto pessoa física, exercemos, é função social, para a qual se canalizam ações individuais, esforços coletivos e necessidades econômicas” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1999, p. 14).
A literatura infantil aparece nesse contexto histórico-social definido: a ascensão da burguesia e a posição que a criança passa a assumir na família. Segundo Lajolo e Zilberman (1999), a nova unidade familiar, centrada no pai-mãe-filhos e fortalecedora do Estado, privilegia a criança como um ser merecedor de atenção especial com status próprio, para o qual convergem as preocupações com a saúde, a educação e a religiosidade.
Ao historiar os princípios da educação e instrução oitocentista no Brasil, Mauad (1999) registra que paralela à literatura de caráter universal, prevalecia uma literatura de cunho moralista, própria do século XIX, direcionada à infância e à