resumo de herança rural
Toda a estrutura da nossa sociedade colonial teve sua base fora dos meios urbanos. Os portugueses instauraram aqui uma civilização de raízes rurais. As cidades eram simples dependências das propriedades rústicas, e isso durou essencialmente até a abolição.
Na monarquia, a política era monopolizada por fazendeiros escravocratas e pelos filhos educados nas profissões liberais: elegiam seus candidatos, dominavam os parlamentares, ministérios e posições de mando em geral, o que contribuiu para a estabilidade das instituições. O domínio era tão estável que permitiu que inclinações antitradicionalistas fossem defendidas por antigos senhores e movimentos liberais importantes encontrassem espaço.
As facções políticas são constituídas à semelhança da família patriarcal, onde os vínculos biológicos, além da famulagem e dos agregados de toda sorte, predominam sobre as demais considerações, os membros se associam uns aos outros por sentimentos e deveres em vez de ser por interesses ou ideias. Nos domínios rurais, a autoridade do proprietário de terras jamais sofria réplica. O engenho era um organismo completo que, não raro, era autossuficiente. Tinha capela para as missas, escola, alimentação, serraria para o mobiliário e madeira para as casas.
Na esfera doméstica, o princípio de autoridade se mostrava menos exposto às forças corrosivas na sociedade colonial. Representando o único setor onde a autoridade é indisputada, a família colonial fornecia a ideia mais normal do poder, da respeitabilidade, da obediência e da coesão entre os homens. Isso fez com que sentimentos próprios à comunidade doméstica, particularista e antipolítica, predominassem em toda vida social – o privado invadindo o público, família invadindo o Estado.
Com a ascensão dos centros urbanos, acelerada pela vinda da Corte em 1808, os senhores rurais começam a perder privilégio e singularidade. Ganham relevância atividades citadinas relacionadas à atividade política, burocracia, profissões