Resumo da primeira parte da obra ''Os Alemães'', do Norbert Elias
As peculiaridades da formação do Estado alemão são de particular significação para entender o habitus alemão. O primeiro diz respeito à localização dos povos de línguas germânicas em relação às sociedades vizinhas que falam outras línguas. As tribos de fala germânica, que se instalaram na vasta áreas entre o Elba e os Alpes ao longo dos séculos de migração dos povos (Völkerwanderung), encontraram-se encravadas entre tribos cuja língua era derivada do latim e tribos orientais falando línguas eslavas. Os grupos latinizados e eslavos sentiram-se reiteradamente ameaçados pelo populoso grupo germânico, e com igual frequência, os representantes do nascente Estado alemão sentiram-se ameaçados de vários lados ao mesmo tempo. Esses três povos lutaram por mais de mil anos em defesa das fronteiras de suas respectivas áreas de povoamento. A posição de bloco intermédio entre dois povos rivais influenciou profundamente o processo de formação do Estado alemão. Em suas etapas iniciais, o Sacro Império legitimou-se como uma espécie de reencarnação do Império Romano ocidental. Durante essas primeiras fases de formação do Estado, os governantes germânicos gozaram de uma posição de preeminência nos domínios da Igreja de Roma. O temor dos Estados europeus não-germânicos se refletiram em ataques ao império sempre que este mostrava algum sinal de fraqueza. Numa época em que muitos Estados vizinhos estavam sendo convertidos em monarquias centralizadas e internamente pacificadas, a vaga integração do Sacro Império provou ser a maior fraqueza de seu estrutura e um convite às invasões. Depois dos choques internos entre os príncipes regionais protestantes reinantes e a casa imperial católica, e as desgastantes guerras religiosas do século XVI, a Alemanha tornou-se uma verdadeira arena de guerra onde os exércitos de outros países travavam suas batalhas pela supremacia. E os exércitos de magnatas regionais também se guerreavam uns aos outros em território