Resenha O Presidente Negro de Monteiro Lobato
No livro, Ayrton Lobo, o narrador, é um funcionário da firma Sá, Pato & Cia., também um homem com um ideal: tornar-se de pedestre a rodante (como ele gostava de dividir o grupo de pessoas que andava a pé e aquele que andava sobre quatro rodas). Considerando a época em que a história fora escrita, essa passagem parece abordar o anseio de uma sociedade que vivia no período de plena maravilha pela indústria automobilística. Na verdade, esse ideal ainda está presente nos dias de hoje, pois o carro transformou-se numa figura simbólica e capitalista de consumo sem o qual a pessoa não se acha em alto grau social e econômico. Quando Ayrton Lobo compra um automóvel, não contente com seu desempenho, compra outro mais potente, demonstrando claramente sua insensibilidade em relação ao grupo a que pertencera — os pedestres —, além de grande irresponsabilidade.
Paguei diversas multas, matei meia dúzia de cães e cheguei a atropelar um pobre surdo que não atendera ao meu insolente “Arreda”.
Claro, que essa insensatez de Ayrton ao volante terminaria em tragédia.
A região que eu atravessava era de maravilhosa beleza. Serras azuis ao longe, quais muralhas de safira a sopesarem um céu de cobalto. Dia de limpidez absoluta.