Resenha sobre “Poesia e Pensamento Abstrato”, de Paul Valéry
Desde a antiguidade, poesia e filosofia vivem um eterno estado de ''amor e ódio'', uma eterna antítese de "Bem ou mal", saudando-se, namorando e, em algum momento, distanciando-se até completamente uma da outra. Vários autores vêm, através da história, tentando encontrar semelhanças e diferenças entre as duas artes.
Na obra "Poesia e pensamento abstrato", Paul Valéry expõe sua visão sobre o pensamento crítico-reflexivo das obras literárias, comparando o trabalho do intelecto do poeta para criá-la com a simplicidade de sua origem. Para o ensaísta, ao invés de buscar falar de conhecimentos incertos sobre outras pessoas, o poeta deve voltar-se, em primeiro lugar, para sua própria experiência, para seus reais estados de espírito e para o que ele próprio julga ser racional ou irracional. Tal processo de autoconhecimento faz do poeta também, necessariamente, um crítico. Ao se espantar com a magnitude de sua realidade, o poeta é tomado de perguntas e respostas, observando-se o que Valéry chama de estado poético: fenômeno sem causa aparente, fruto de uma profunda perturbação inicial sem motivo; um regime de trocas entre vida e pensamento que vai construir em nós o instrumento poético. Contudo, o resultado é incerto, um verdadeiro enigma, já que nada é essencialmente garantido nos nossos espíritos. O poeta não tem como intenção reproduzir o estado poético em quem lê suas palavras, despindo-se assim completamente; contenta-se em deixar o leitor inspirado, guiando-o em direção à "causa admirável de sua admiração". Visto que a poesia não tem um material pré dado para sua construção, ela precisa usar a linguagem como meio para existir. Contudo, o empréstimo deve ser feito com cautela: palavras podem estar carregadas de valores acidentais, alterando nossa verdadeira necessidade de expressão. Certas combinações podem vir ou não a produzir emoções. De qualquer maneira, as palavras representam ideias,