Resenha sobre o filme "Linha de Passe"
Mães solteiras, mulheres “amancebadas”, "vagabundas", “desordeiras”, pais irresponsáveis, “bêbados”, “vadios”, crianças “fujonas”, “malandras”, são os responsabilizados por esta "desestruturação ou desorganização familiar". Tal “desordem” é vista como imoral e promíscua pela sociedade, precisando assim ser corrigida, modulada dentro de padrões aceitáveis. 1
O que se esconde por trás da ideia de “família desestruturada” tão em voga na sociedade atual como explicação da criminalidade, abandono de menores, comportamentos riscos, entre outros? Ora, o que seria então o modelo oposto a esta família? Poderíamos arriscar a responder estas questões se não fosse o fato de consistirem em falsas alternativas, melhor dizendo, o reducionismo implícito nessa proposição tem como principal efeito o silenciamento das reais causas dos problemas sociais, seriam elas, grosso modo, o acesso a educação, falhas nas políticas públicas, dificuldade da população mais pobre em conseguir acesso aos serviços públicos no geral, etc. Lançar mão de reducionismos como este é, ao mesmo tempo, sustentar o discurso dominante de individualização das causas de problemas conjunturais e estruturais de toda a sociedade.
Cabe pensar aqui qual seria o modelo de família estruturada em oposição aquela do filme? O modelo patriarcal é tido como o ideal, mesmo que exista problemas da ordem da família de Cleuza, tendo um pai e uma mãe estaríamos livres para culpabilizar os filhos caso esses se envolvessem com a criminalidade, pois nesse raciocinio entender-se-ia que foram eles que não souberam aproveitar o suporte familiar bem estruturado. Ora, então quer dizer que a família de Linha de Passe é desestruturada por não existir um pai? Essa é uma primeira indagação. A segunda seria a questão da liberdade. Celso Sabatin comenta que a família “vive situações limites. Denis é quase um marginal. Dario é quase um jogador profissional. Dinho quase tem Fé. Reginaldo é