Resenha Publicada na revista Horiz
Raphael Bispo*
Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro – Brasil
Quem consegue ser indiferente a um "campeão de audiência"? A antropóloga Isabel Travancas, em seu livro Juventude e televisão, nos mostra o quão difícil é para um produto jornalístico como o Jornal Nacional (JN) passar despercebido pelos mais desatentos dos telespectadores. Há 40 anos no ar, o telejornal consegue ser hoje captado pelas antenas de praticamente todos os lares do Brasil. Muitos brasileiros fazem suas refeições noturnas com os olhos atentos para as notícias transmitidas pela Rede Globo. Outros, por sua vez, ligam o aparelho eletrônico apenas por costume, e veem o jornal enquanto desempenham atividades paralelas. Mesmo diante de uma diversidade de maneiras de experimentar cotidianamente o programa televisivo, as pessoas em boa medida trazem as notícias e debates engendrados por ele para suas vivências diárias. Sendo assim, seja para criticá-lo ou apenas fornecer conversa com o outro, o JN inquieta os telespectadores.
A proposta de Travancas é um "estudo de recepção" do Jornal Nacional, nos termos dos pesquisadores da área de comunicação e afins. Como destaca a autora, os antropólogos têm contribuído para trabalhos sobre "recepção" televisiva por meio de uma abordagem mais etnográfica do tema. Longe de apenas buscar opiniões sobre aquilo a que assistem, a perspectiva antropológica procura compreender a maneira como determinados sujeitos interagem em seu cotidiano com os meios de comunicação. Sendo assim, com base nesta última proposta, a autora analisa as formas de assistir ao JN por jovens universitários moradores da cidade do Rio de Janeiro, sem abrir mão, é claro, das interpretações que fazem das notícias ali apresentadas.
Travancas