Resenha "de cortiço a cortiço" de antonio candido
Antonio Candido tem sua analise apontada para o ensejo de indicar a narrativa de Azevedo como uma manifestação literária peculiar, ainda que estruturada a partir de pressupostos literários de escola.
Assim, não estranha que Candido introduza sua análise evocando um dito proustiano segundo o qual “todas as vezes ... que um grande artista nasce é como se o mundo fosse criado de novo, porque nós começamos a enxergá-lo como ele o mostra”.
Entretanto não querendo afastar-se da subjetividade crítica típica do século XIX, cujas noções de beleza artística estavam quase sempre atreladas a aspectos exteriores ao texto literário, o autor, apontando as contribuições do Estruturalismo para o desenvolvimento de seu trabalho crítico e trazendo assim a questão para dentro do texto, postula que o processo criativo se dá a partir da “fórmula segundo a qual a realidade do mundo ou do espírito foi reordenada, transformada, desfigurada ou até posta de lado, para dar nascimento ao outro mundo” e, por isso, acrescenta, “seria melhor a visão que pudesse rastrear na obra o mundo como material”.
Embasado nesse pressuposto, o uso que Candido faz da estrutura, terá sobretudo o intuito de apontar que, não sem deixar de fazer-se homem de seu tempo, Azevedo acabou por plasmar em O cortiço, ainda que numa perspectiva hoje por nós posta em questão, uma configuração social específica, a da cena social brasileira de sua época.
A idéia de uma originalidade do romance de Aluísio em relação à sua matriz européia, qual seja, o romance Germinal, de Émile Zola, ambientado na França, encontraria respaldo sobretudo na presença, no primeiro, de um “primitivismo econômico” que, ausente na França pela maior urbanização e conseqüente maior divisão das esferas sociais, no Brasil de O cortiço estaria presente na medida em que “o enriquecimento é feito à custa da exploração brutal do trabalho servil, da renda imobiliária