Resenha Crítica - Carcereiros, Dráuzio Varella
“As histórias de heroísmo, os atos de generosidade, a corrupção, a covardia, a prática da tortura, o desapego à própria vida em benefício dos outros, as maldades e os exemplos de dedicação ao serviço público que se seguem foram observados por mim ou contados pelos carcereiros com quem tenho convivido.” Dráuzio inicia sua narrativa falando sobre o “massacre do pavilhão Nove”, ocorrido na Casa de Detenção conhecida como Carandiru no dia 2 de outubro de 1992. Relata como os funcionários do pavilhão Oito lidaram com a situação para que os PMs não adentrassem ao mesmo, utilizando-se do diálogo e da boa fé com os detentos. Os tiros duraram do começo do entardecer até por volta das 20h e o pavilhão Oito permaneceu em paz. Por fim, relembrou Seu Araújo, um dos funcionários mais experientes: “Vi sangue ser puxado com rodo da galeria”. O autor diz ser fascinado por cadeias desde pequeno. Teve seu primeiro contato com um presídio em 1989, quando foi gravar um vídeo sobre aids na Casa de Detenção de São Paulo, o antigo Carandiru. Local onde semanas mais tarde iniciou seu trabalho de atendimento médico voluntário e palestras educativas, perdurando por treze anos até a implosão do mesmo, no final de 2002. Relata que no início teve bastante dificuldade no relacionamento com os colegas por ser novato e ingênuo neste sistema. Com o passar dos anos fez amigos, até mesmo íntimos e acredita ter sido aceito por duas razões: a primeira, por ter disponibilizado consultas e conselhos sobre saúde e tentado conseguir inúmeras internações e tratamentos para estes funcionários e seus familiares. A segunda, por ter firmado com tais servidores o compromisso de reunir-se em uma mesa de bar a cada duas ou três semanas independente do que acontecesse. Após a Detenção ser demolida, passou a atender a Penitenciária do Estado que três anos mais tarde começou a ser desativada e transformada em prisão feminina. Em