Resenha capítulo i do livro de sérgio adorno "os aprendizes do poder: o bacharelismo liberal na política brasileira"
Sergio Adorno é sociólogo, pós-doutor pelo Centre de Recherches Sociologiques sur Le Droit Et lês Institutions Pénales (CESDIP), da França e atual professor da Faculdade de Ciências Humano-Filosóficas da Universidade de São Paulo (USP).
Ao tratar sobre a emancipação política no Brasil e o seu caráter essencialmente antimetropolitano, observa-se que as bases ideológicas vigentes, fundamentalmente liberais e democráticas, entraram em choque e contradição, e o papel das escolas de Direito foi determinar a postura jusfilosófica dos seus bacharéis no século XIX. As diferentes acepções sobre os desmembramentos dessa emancipação surgiram na sociedade da época de uma forma conflitante: para a elite, significava progresso e civilização, enquanto que para o povo, o fim da miséria e dos privilégios a determinada classe.
Os ideais liberais vestiram diferentes roupas, tendo suas diretrizes modificadas por diversas classes e interesses sociais no processo emancipatório – os proprietários rurais eram favoráveis à manutenção da lógica escravocrata e não tinham a intenção de transformar o país em uma república. Adorno enfatiza que a prática do ideal liberal foi concebida de diversas formas pela vida social e política do Brasil no século XIX, ocorrendo principalmente uma tensão entre patrimonialismo e liberalismo. A criação das duas primeiras faculdades de Direito em Olinda e em São Paulo, por Dom Pedro I, mostra o aprofundamento desse dilema na sociedade pós- colonial. O jusnaturalismo presente na ideologia jusfilosófica da época, incorporou ao longo do século XIX matrizes do liberalismo e o individualismo pregado por esta corrente ideológica. Observamos a presença de uma lógica liberal elitista, um discurso que