resena do livor O outro pé da sereia, de Mia Couto
841 palavras
4 páginas
Quando o real e o sobrenatural caminham juntos.O romance “O outro pé da sereia” de Mia Couto (Companhia das Letras; 336 páginas) traduz-se em crítica sociocultural, preconceito e sincretismo religioso, tudo isso com um tom poético, que enriquece todos os personagens no sentido mais “cultural” da palavra. A narrativa se passa em Moçambique, em dois momentos históricos, no ano de1560 e depois 2002, numa época em que o país estava num processo de recuperação dos danos causados pela guerra civil. Tudo começa quando Mwadia Malunga e seu marido pastor, Zero Madzero, encontra acidentalmente um baú com documentos antigos, um esqueleto e uma estatua de Nossa Senhora com o pé cerrado, a margem de um rio de um pequeno lugar chamado Antigamente. Toda simbologia do momento consolidou o pontapé inicial para viagem de Mwadia para Vila Longe, o lugar onde deixara toda sua família, para hospedar a santa de um pé só, porem, a intenção dela não se baseava apenas nisso, ela também pretendia buscar seu Eu interior, ela estava numa viagem para procurar a si mesma, percebe-se tal teoria nos trechos “A verdadeira viagem é a que fazemos dentro de nós. Há ondas movidas por anjos, outras empurradas por demônios.” e “A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores. A viagem acontece quando acordamos fora do corpo, longe do último lugar onde podemos ter casa.”. A imagem da santa católica com o pé cerrado tem uma historia muito rica, e uma significação muito complexa, na verdade, e o símbolo mais influente de toda a trama, percebe-se isso logo com o titulo da obra. A estátua foi benta pelo Papa, e trazida pelo jesuíta Gonçalo da Silveira com a intenção de converter o imperador do Império de Monomotapa, localizado na fronteira entre os atuais Zimbábue e Moçambique. O mais curioso, e o fato da imagem da santa, de certa forma, unir os povos, ela e tratada pelos escravos da nau portuguesa de Kianda, considerada uma divindade