Relato da Experiência na escuta dos familiares das vítimas da Boate Kiss
A morte é da ordem do indizível, ninguém fica imune ao impacto de uma tragédia, mas cada pessoa a enfrentará com seus recursos, mesmo que em circunstâncias semelhantes. Ao chegarmos ao local a demanda se fez visível: um espaço para que os familiares chorassem o encontro com a dolorosa realidade, restava-nos suportar o grito, o choro, a negação. A experiência de acolher os familiares fragilizados pela condição traumática é sustentar sua desorganização, sua fala incoerente e assustada, seu corpo paralisado, o choque e a descrença diante da perda repentina e inesperada.
Faz parte da condição humana não querer sofrer. Tentamos fugir de sofrimentos o tempo todo, apesar de sabê-los inevitáveis ao longo da vida. Não seria diferente diante de um dos maiores sofrimentos humanos: a dor da perda. Amar e ter medo de perder caminham juntos, e parece que nunca estamos prontos para a perda de um ente querido. Diante disso, o luto se torna uma das experiências mais difíceis de serem vividas por nós seres humanos.
A práxis do Psicólogo sempre foi a de escutar o que se impõe em seu tempo. Escutar a tristeza, a dor, a perda, em suas aproximações e diferenças. Coube a nós representar ao sujeito em sofrimento, alguém a quem ele pudesse dirigir-se naquele momento e