Reflexões sobre a vida e os direitos de anne cefaline
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Reflexões sobre a vida e os direitos de Anne Cefaline(Davison Rego Menezes)
Quando soprou as rajadas de seu pensamento sobre as artes e a filosofia, Victor Hugo arejou o espírito humano, afastou parte do nublado da ignorância e permitiu-nos enxergar a vida “com um olhar mais elevado e mais amplo”, compreendendo que “tudo na criação não é humanamente belo, que o feio existe ao lado do belo, o disforme perto do gracioso, o grotesco no reverso do sublime, o mal com o bem, a sombra com a luz”[1]. Hugo assegurava: o que chamamos de feio “é um pormenor de um grande conjunto que nos escapa, e que se harmoniza, não com o homem, mas com toda a criação”[2].
De fato, Anne Cefaline não é bela; personifica “os párias [que] não têm nomes, usam apenas uma designação a que se acostumaram a responder”[3]. Demos um nome a esta “legião de párias” pretendendo lhe tributar maior dignidade e resgatá-la à família humana, a que pertence, invariavelmente — após tanto ser aviltada nos debates públicos que fizeram rolar seu futuro de uma direção a outra[4].
Para melhor conhecermos Anne Cefaline, é preciso situá-la entre os párias em redenção, aqueles que “sofrem e choram, embrulhados no manto da dor e da soledade, expurgando-se, para galgar a montanha da sublimação, após a demorada marcha pelo charco das paixões em superação”[5]; enfrentam “problemas especiais, em que a individualidade renasce de cérebro parcialmente inibido ou padecendo mutilações congênitas, ao lado daqueles que lhe devem abnegação e carinho”[6].
Todavia, à entrada do portal do nascimento, quando vinha dar forma à aliança entre a população terrena e a sociedade espiritual, a viagem de Anne Cefaline fora interrompida, durante a travessia do grande continente da Espiritualidade ao plano material.
Foram os homens trajados de densos corpos que expulsaram Anne Cefaline antes que seus pés tocassem a terra na qual sua estada, conforme já se previa, seria breve. Perceberam, por sofisticados exames pré-natais, que