REFLEXÕES SOBRE ETNOCENTRISMO. Análise do conto de Clarice Lispector: “A menor mulher do mundo”
Análise do conto de Clarice Lispector:
“A menor mulher do mundo”
Conforme nos foi apresentado nesta disciplina, etnocentrismo é uma forma de ver, perceber e pensar o mundo, tendo como perspectiva os valores próprios de sua cultura. Segundo ROCHA (1993, p. 7), “etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência.” Assim, o etnocentrismo julga os outros povos e culturas pelos padrões da própria sociedade.
Isso fica evidenciado no conto “A menor mulher do mundo” de Clarice Lispector, sugerido pela docente como instrumento de análise do tema etnocentrismo. Nele, um dos protagonistas – o explorador francês Marcel Pretre – não só toma os padrões de sua sociedade como os mais corretos, como descreve como “aberrações” os padrões alheios.
No trecho: “Sentindo necessidade imediata de dar nome ao que existe, apelidou-a de Pequena Flor e, para conseguir classificá-la entre as realidades reconhecíveis, logo passou a recolher dados a seu respeito” (LISPECTOR, 1983; p.78), fica clara a necessidade do observador de classificar o que via pautado em categorias próprias de sua cultura.
Na narrativa do observador, o objeto de sua observação é descrito como sendo uma criatura “escura como um macaco” que “vive no topo da árvore”; usa “linguagem simples” e “chama as coisas por gestos e sons animais” e que “como avanço espiritual, usa um tambor”. Observamos aqui o estranhamento e a clara rejeição de Marcel Pretre àquilo que é adverso à sua cultura.
Enquanto europeu, em seu papel de “explorador” e tomado por uma postura de superioridade, Marcel Pretre, não só desqualifica o outro, como o relega a uma condição de inferioridade e atraso. Observamos isso no trecho: “Sua raça de gente está aos poucos sendo exterminada. Poucos exemplares restam dessa espécie”. Nota-se aqui a negação do