Recensão crítica a Jesus Cristo Bebia Cerveja, de Afonso Cruz

Jerusalém é onde um homem quiser
Recensão crítica a Jesus Cristo Bebia Cerveja, de Afonso Cruz

A cultura popular portuguesa está recheada de provérbios, uns mais comuns do que outros, e para cada situação quotidiana podemos quase sempre encontrar um que represente a realidade do momento, que se adeqúe à posição em que nos encontramos. Para introduzir Jesus Cristo bebia cerveja não há excepção à regra.
Se “o Natal é quando um homem quiser” permita-me a liberdade de apresentar uma ligeira nuance a este tão ouvido dito popular: Jerusalém é onde um homem quiser. É com este pensamento em vista que Afonso Cruz nos leva a flutuar no seu barco de estórias.
Em Jesus Cristo bebia cerveja o pano de fundo traduz-se num esforço conjunto das personagens em levar uma idosa residente no Alentejo e com dificuldades de locomoção a cumprir o seu sonho último: ir à terra santa. Este é o ponto de partida para uma série de vicissitudes que vão sucedendo ao longo do tempo que tarda a preparação da tarefa definida.
A idosa chama-se Antónia, passa o que resta do seu tempo invariavelmente sentada, ora murmurando orações praticamente impronunciáveis, ora adormecida, quase morta, embora seja, paradoxalmente, tão velha que “já não tem idade para morrer” (pág. 46).
Antónia é avó de Rosa, uma das protagonistas, uma jovem muito peculiar, cobiçada pelos homens através dos seus ainda tímidos atributos físicos que suavemente despontam no seu corpo, abandonada precocemente tanto pelo pai como pela mãe, isolada com a avó num monte do Alentejo, de que tanto gosta. Rosa, “do campo, pobre e pouco educada” (pág. 165) é uma rapariga determinada mas que se tarda em decidir, que deambula entre amantes; amantes estes completamente opostos: um pastor, Ari, um homem simples, que cheira a campo e tem vergonha do tamanho diminuto dos seus pés; e um homem de idade mais avançada, o septuagenário erudito professor Borja, personagem completamente sui generis no contexto rural do Alentejo.
Trata-se de