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Espinosa expõe sua concepção do homem na Ética. Ao tratar sobre o que é o homem, o autor mostra concomitantemente que sua essência está na unidade do corpo e da idéia do corpo. Tal unidade representa o conjunto da atividade da consciência humana, atividade esta que sempre tem a possibilidade de tomar-se reflexiva. Por este motivo, esta parte da obra encerra tanto uma visão antropológica - quando afirma que o homem é uma unidade do corpo e da alma -, como uma teoria do conhecimento - na medida em que a alma é uma atividade reflexiva que, ao ocupar-se das idéias das afecções do corpo, chega ao conhecimento verdadeiro. A ordem antropológica permite o desenvolvimento e a instituição da teoria dos afetos e da ordem existencial. A essência do homem torna-se o desejo. A idéia do corpo e o desejo são os dois aspectos essenciais e fundamentais da antropologia espinosiana. Embora sejam aspectos distintos um do outro, fundem-se em um só, resultando na noção do homem como idéia do corpo, que é em si mesmo o desejo: o esforço de perseverar no seu ser. "0 desejo é o todo da consciência e a idéia do corpo é o todo do homem". Na filosofia de Espinosa, as ordens antropológica e existencial se fundamentam na ordem ontológica. A fundamentação das duas ordens na ontológica institui a ordem ética. É justamente a antologia que dá condições ao desdobramento e à constituição de toda a ética espinosiana. Por isso, Espinosa desenvolve, inicialmente, a antologia e, a seguir, a antropologia e a ordem existencial, com o objetivo de fundamentar uma ética. O corpo e a alma são ambos a mesma coisa: Natureza Naturada, isto é, modos finitos da substância divina, que exprimem a natureza absoluta de Deus enquanto coisa extensa e coisa pensante. Neste sentido, toda realidade é Natureza. Porém, corpo e alma diferem-se entre si enquanto são efeitos de dois atributos; aí eles representam duas modalidades