Questão afetiva
Cipriano Carlos Luckesi
Muitas vezes, temos nos debatido entre dois focos da prática educativa: o cognitivo e o afetivo. Tradicionalmente, na educação moderna (séc. XVI ao XX), temos privilegiado a formação lógica da mente, através dos conteúdos científicos, na crença iluminista de que “conhecer é poder”. E aqui o termo “conhecer” refere-se ao conhecimento cognitivo considerado “certo”. Foi com esse olhar que realizamos a educação predominante nas escolas dentro do período considerado da modernidade.
Já mais para a segunda metade do século XX, com predominância no seu final, e nestes primeiros anos do início do século XXI, temos questionado criticamente esse foco da prática educativa tadicional, propondo, a necessidade de voltamos nossa atenção para a afetividade. Então, foram debatidos e continuam a sê-lo em muitos lugares temas, tais como “emoção e razão na prática educativa”; “afetividade e escola”; “educação emocional”, e outros assemelhados.
Por vezes, nesse processo, exacerbamos nossas considerações para um ou outro lado. A educação tradicional exacerbou para o cognitivo, chegando ao estremo de trabalhar com súmulas de conhecimentos, que eram repetidas pelos estudantes, mas sem a sua devida compreensão (aprendizagem de memória). Como se, com isso, o educando pudesse se desenvolver, chegando ao que o professor Paulo Freire denominava de “educação bancária”. Por outro lado, na reação recente a esse foco da educação, por vezes, temos chegado ao outro extremo de considerar que somente o afetivo interessa. Diz-se, então, que o cognitivo será adquirido ao longo da vida e na medida do necessário; o que importa é estar atento ao fenômeno da afetividade.
A meu ver, os dois extremos distorcem o melhor da prática educativa. O ser humano não é nem cognitivo nem afetivo, ela é se apresenta fenomenologicamente como um todo, onde se dão a cognição, a afetividade, a motricidade, a corporeidade, e mais