Quais são as analogias possíveis entre mau encontro e soberania? Comente a dinâmica entre conservação do Estado e mobilidade social.
O que Pierre Clastres descobre, ao sair da História, é precisamente que a sociedade na qual o povo quer servir o tirano é histórica, que ela não é eterna e não existiu sempre, que ela tem uma data de nascimento que não é precisamente comentada e que algum evento necessariamente deve ter se passado para que os homens caíssem da liberdade na servidão: "...que mau encontro foi esse, capaz de desnaturar tanto o homem, em verdade nascido apenas para viver abertamente, e de fazê-lo perder a lembrança de seu primeiro ser e o desejo de recuperá-lo?".
Tal evento é nomeado pelo autor de mau encontro que seria um acidente trágico, infelicidade inaugural cujos efeitos não cessam de se amplificar a ponto de se perder a memória de antes, a ponto de o amor à servidão substituir o desejo de liberdade. Segundo La Boétie essa passagem da liberdade à servidão foi sem necessidade, ele afirma acidental — e que trabalho a partir de então seria pensar o impensável mau encontro — a divisão da sociedade entre os que mandam e os que obedecem. O que é aqui inaugurado é exatamente esse momento do nascimento da História, essa ruptura desafortunada que jamais deveria ter se produzido, esse irracional acontecimento ao qual nós chamamos, de maneira semelhante, de nascimento do Estado.
A criação do homem “desnaturado” se assim podemos chamá-lo, o homem perde a liberdade, essencialmente sua humanidade, pois ser humano é ser livre, o homem é um naturalmente em liberdade. Que mau encontro, portanto, que pôde levar o homem a renunciar a seu ser e a fazê-lo desejar a perpetuação dessa renúncia?
O sinal e a prova dessa perda da liberdade são constatados não apenas na resignação à submissão, mas, bem mais claramente, no amor à servidão. Em outras palavras, La Boétie opera uma distinção radical entre as sociedades de liberdade, conforme à natureza do homem —