Pré-sal
Bastou a miragem do dinheiro do petróleo para que os políticos em Brasília entrassem em frenesi. Em meio à farra, falta explicar como vai funcionar a exploração do pré-sal
Divulgação
Campo de Jubarte, visto da plataforma: oportunidade histórica – desde que a política não atrapalhe
Por José Roberto Caetano | 17.09.2009 | 00h01
Desde que foram anunciadas reservas gigantescas de petróleo na camada do pré-sal da costa brasileira, há quase dois anos, uma acalorada discussão começou sobre os riscos para o país com a extração a granel da riqueza do fundo do oceano. A advertência: a abundância de petróleo, se não for bem gerida, pode se tornar uma maldição, em lugar de uma bênção, a exemplo do que acontece em tantos países – riquíssimos em petróleo, paupérrimos no restante. Aos poucos, os medos de que o Brasil repita na economia a trajetória de nações como Venezuela, Nigéria ou Líbia começam a se dissipar, diante da constatação de que as imensas riquezas encontram um país robusto e diversificado. Nas últimas semanas, porém, os brasileiros foram apresentados a outra face da maldição do petróleo, a política – e dessa não está fácil de escapar. A miragem de bilhões de reais jorrando em alto-mar – os cálculos sobre as reservas variam de 30 bilhões a 100 bilhões de barris de petróleo – tem levado os políticos em Brasília a uma espécie de delírio, evidenciando uma sina bem conhecida dos brasileiros. Trata-se da velha prática de uso das causas nacionais como meio de obter ganhos pessoais e partidários. O próprio governo puxou a fila, quando apresentou, em 31 de agosto, as propostas para o marco regulatório do pré-sal com brados ufanistas que lembram os dos tempos de regime
militar. Num discurso nacionalista e estatizante, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disparou contra o que chamou de enfraquecimento da Petrobras no governo anterior e declarou que quer reforçar o papel da empresa, a qual chamou de "meu querido dinossauro".