portugues
Não acredito que a década de 1980 possa ser considerada por muitos como uma década perdida, a juventude brasileira que entrava na cena cultural nesta época tinha sido criada na ditadura militar, assistindo televisão e na censura. Estavam conhecendo os limites de uma nova forma de liberdade diferente daquela que fazia parte dos sonhos dos jovens de uma ou duas décadas anteriores a esta, os modelos de lutas passadas já não combinavam com suas realidades. Era hora desses jovens conquistarem um lugar no mundo, mais especificamente num país que estava lhes sendo entregue arruinado e esgotado por um milagre econômico e uma revolução mundial que não havia dado certo. O padrão de ruptura com valores pré-estabelecidos era constante, evidenciado nas letras recheadas de crítica social e política. O que importava era ser diferente. E fazer a diferença era uma característica que a maioria dos grupos de rock brasileiro dos anos de 1980 queria. Não estavam interessados em reviver o passado ou muito menos pensar no futuro, seu único compromisso era com o tempo presente, ser feliz sem se importar com o que já foi ou com o que estava por vir. A década de 1980 rompeu com uma série de procedimentos e pressupostos de nossa vida cultural, revelou uma geração que cresceu sob a égide da cultura de massa americana, da TV e da sociedade de consumo. Procuro mostrar que essa juventude foi formadora de opinião e suas músicas tinham conotação contestatória à realidade do país. Esta geração de jovens se tornou crítica quando obtiveram a oportunidade de se manifestar. E fizeram isso da melhor maneira possível, através da música. Jovens inquietos passavam a surpreender a sociedade, com letras de alta densidade poética, que definiam sentimentos e idéias para a sua própria geração, até então, sem porta-voz. O rock brasileiro espalhava-se pelos centros urbanos, transformava-se num manifesto, numa vontade de mudança ao