Portoeditora Gilvicente Autoindia
3152 palavras
13 páginas
Auto da ÍndiaGil Vicente
BD
Biblioteca
Digital
Colecção
CLÁSSICOS
DA LITERATURA
PORTUGUESA
Auto da Índia Gil Vicente
pág.
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Introdução
À
farsa seguinte chamam Auto da Índia. Foi fundado sobre que ua
˜ mulher, estando já embarcado pera a Índia seu marido, lhe vieram dizer que estava desaviado e que já não ia. E ela de pesar está chorando. E fala-lhe ua
˜ sua criada.
Foi feita em Almada, representada à muito católica rainha
Dona Lianor. Era de M.D.IX anos.
Entram nela estas figuras: Ama, Moça, Castelhano, Lemos,
Marido.
(Copilaçam de todalas obras de Gil Vicente, 1562. Livro quarto)
© Porto Editora
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1.a Parte
MOÇA
AMA
5
MOÇA
AMA
10
MOÇA
AMA
15
MOÇA
AMA
20
MOÇA
AMA
Jesu! Jesu! que é ora isso?
É porque se parte a armada?
Olhade a mal estreada!
Eu hei-de chorar por isso?
Por minha alma, que cuidei
E que sempre imaginei
Que choráveis por nosso amo.
Por qual demo ou por qual gamo
Ali má-hora chorarei?
Como me deixa saudosa!
Toda eu fico amargurada!
Pois porque estais anojada?
Dizei-mo, por vida vossa!
Leixa-mora, eramá!
Que dizem que não vai já.
Quem diz esse desconcerto?
Dixeram-mo por mui certo
Que é certo que fica cá.
O Concelos me faz isto.
Se eles já estão em Restelo,
Como pode vir a pêlo?
Melhor veja eu Jesu Cristo.
Isso é quem porcos há menos.
Certo é que bem pequenos
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Auto da Índia Gil Vicente
4
São meus desejos que fique…
25
MOÇA
AMA
30
35
MOÇA
AMA
A armada está muito a pique.
Arreceo al de menos.
Andei na má-hora e nela
A amassar e biscoutar,
Pera o demo o levar
À sua negra canela,
E agora dizem que não.
Agasta-se-me o coração,
Que quero sair de mim.
Eu irei saber se é assim.
Hajas a minha bênção.
Vai a Moça e fica a Ama dizendo:
AMA
40
45
A santo António rogo eu
Que nunca mo cá depare:
Não sinto quem não s'enfare
De um diabo Zebedeu.