Portifolio de semantica
Análise do texto Autopsicografia, de Fernando Pessoa, tendo em vista as relações entre enunciação e enunciado.
No poema em análise é visto que o sujeito da enunciação instala por debreagem enunciva, um ele no discurso (“o poeta”), assimilado ao papel temático do fingidor, do qual passa a falar com o distanciamento crítico que este mecanismo sintático proporciona entre as instâncias do enunciado e da enunciação, ocorrendo às categorias de ordem do ele-lá-então. É notório que na qualidade de fingidor o “poeta” é comparado ao sujeito da enunciação, ou seja, ao sujeito responsável por criar, no ato enunciativo, a si mesmo e a “dor” enunciada que, uma vez despregada da “dor” efetivamente vivida, incomunicável por natureza, só pode ser simulada em discurso. A enunciação poética, portanto, constrói simulacros como qualquer outro ato enunciativo e, para o autor Fernando Pessoa, este faz de tal modo que persuade o enunciatário da “verdade” da “dor” enunciada. Exímio fingidor, pois domina os mecanismos e procedimentos enunciativos, o poeta se qualifica, então, como aquele que quer, sabe e pode-fazer-crer na verdade enunciada. Entendemos que no processo de comunicação do poema, a “dor” enunciada, constitutiva da identidade do enunciador, é efeito de discurso ou “dor” de segunda ordem. E no processo da leitura, por sua vez, cria-se uma “dor” de terceira ordem, a do leitor, já bastante modificada pela mediação instauradora da atividade semiótica. Por fim, no poema Autopsicografia, o enunciador cria um efeito de objetividade ao narrar quase exclusivamente em terceira pessoa. Esta estratégia discursiva simula no texto certa isenção do enunciador, que parece apenas descrever dois estados de coisa com suas figuras características, uma vez que enunciador e enunciatário se reconhecem como unidade (significado da dor).
Neste poema, Fernando Pessoa fala da teoria do fingimento poético, pois o poema não