porrugues

292 palavras 2 páginas
Em Os Três Reis do Oriente, não por acaso o último conto da antologia, deparamos com três personagens - Gaspar, Melchior e Baltasar - a quem os pontos de vista convencionais não satisfazem. O primeiro não aceita como deus um ídolo de ouro «compacto, duro, pesado» que renega os pobres, os envergonhados e os humildes. O segundo recusa o niilismo dos sofismas, aporias e ateísmos da ciência e da filosofia. O terceiro problematiza os valores na base da sua riqueza e do seu poder. Os três partem em busca de uma crença válida capaz de fornecer uma resposta, crença corporizada polissemicamente pelo topos da estrela: «sobre o mundo do sono, sobre a sombra intrincada dos sonhos onde os homens se perdiam tateando, como num labirinto espesso, húmido e movediço, a estrela acendia, jovem, trémula e deslumbrada, a sua alegria».
Esta atitude nómada, uma das características do romance picaresco, recusando o peso dos valores tradicionais, relaciona-se com a noção de que a vida é ela própria uma viagem com um percurso desconhecido. Em A Viagem, os protagonistas (um casal), que simbolicamente se perdem de um destino que haviam rigorosamente delineado à partida, vão adquirindo gradualmente a noção da efemeridade das coisas e, correlativamente, da necessidade da fruição dos frutos do presente, sobretudo dos mais inesperados, dos que vêm em vez daqueles inicialmente planeados. A ambição de recuperar o caminho inicial implica que eles ignorem as virtudes do caminho que vão trilhando: abrigo, alimentos, água fresca, etc., que vão desaparecendo e não são encontradas quando eles voltam atrás. Esta caminhada acaba por conduzi-los a um abismo que engole a personagem masculina e cerca de escuridão a personagem feminina, a qual, nestas circunstâncias desanimadoras, descobre afinal em si a fé na validade de um

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