Porraaa
Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar, pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semidéia, que, como o acidente em seu sujeito, assim co’a alma minha se conforma, está no pensamento como idéia;
[e] o vivo e puro amor de que sou feito, como matéria simples busca a forma.
5 - Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, justamente choro e rio,
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto, um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.
Se me pergunta alguém por que assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora. 4 - Transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho logo mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar, pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semidéia, que, como o acidente em seu sujeito, assim co’a alma minha se conforma, está no pensamento como idéia;
[e] o vivo e puro amor de que sou feito, como matéria simples busca a forma.
5 - Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, justamente choro e rio,
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto, um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.