Porque arquitetura e Urbanismo
Proponho que se entenda por arquitetura todo espaço modificado pelo trabalho humano. Essa definição exclui paisagens naturais ou cavernas intocadas e inclui quaisquer paisagens artificiais e construções de toda espécie, sejam elas precedidas por projetos ou não, sejam concebidas por profissionais especializados ou não. Em princípio, não cabe aqui nenhuma distinção entre arquitetura e construção, nem tampouco entre as escalas de edifícios, cidades e paisagens.
O espaço modificado pelo trabalho humano – a arquitetura, portanto – é gerado por processos sociais e é meio em que relações sociais são criadas. Arquitetura e sociedade se condicionam mutuamente; tanto mais, quanto maior for o investimento material e simbólico de uma cultura na configuração do seu espaço físico. Há culturas em que esse investimento é baixo e cuja coesão depende mais de ritos, língua, objetos móveis do que da organização de indivíduos e atividades no espaço. Há outras, cuja coesão se faz por uma ordem espacial abrangente e regulada da macro à microescala. Esse último caso vale também para a sociedade moderna e contemporânea. Demonstra-o o fato de freqüentemente tomarmos certa configuração espacial por algo natural para qualquer grupo humano, tratando uma disposição social como se fosse uma invariante etológica. A própria sociedade contemporânea contém grupos que fogem à lógica espacial ou são privados dela e, por isso mesmo, denominados "marginais" – termo que denota a exclusão por parte de quem raciocina espacialmente. As novas tecnologias da informação podem vir a alterar essas características da nossa sociedade, sobretudo quanto ao vínculo entre espaço social e espaço físico, mas por enquanto ele é conservado pelas relações de propriedade da terra.