Por Enquanto
É primavera em Haarlem, gosto de olhar o moinho, ou o gigante de Don Quixote, para mim, um pequeno Pintassilgo amarelo, ele é realmente gigante. Já vai anoitecer e eu canto as últimas cores do dia, entre rés e dós, digo adeus ao sol, que se deita atrás dos campos de tulipas brancas.
Dizem que a noite é uma criança, ingenuidade de quem diz. A noite é uma mulher, linda e negra, que tem fases como a lua, que passa rápido quando te agradas e que samba em passos lentos quando te deixas em solidão. Vejo um homem assobiar descendo a ladeira, se não me engano, silva uma música do Caetano. Ôh saudades da Bahia, mas já já voo pra lá. Pra matar saudades de mainha, do carnaval, do samba e da minha passarinha que lá deixei por não consegui parar num ninho só. Entre nós só o Atlântico e a saudade.
Aquetei numa árvore aqui na praça, onde a vista é boa e eu posso ficar a tôa. Casais passam de mãos dadas, uma menina de cabelos vermelhos corre com o balão na mão, acredita poder voar, um jovem canta The Doors e sonha ser super star.
Parei o voo, mas os pensamentos bateram as asas, foram por todos os lugares que eu fui e sonhou com uma casa. Imagina só? Eu, minha amarelinha, tendo uma casa no Parque dos Ipês lá no meu sertão. Mamãe daria graças de asas abertas e eu cantaria mais uma canção.
Está decidido, amanhã vou voltar, largo a Holanda e viajo de volta pra casa, em busca de um lar. Passa a noite sambando, nasce o sol cantando um novo dia, alongo minhas penas que a viagem é longa. Se o vento ajudar, de tarde estou na Alemanha, e se tudo der certo durmo na França.
Mont St