POPITICA
8767 palavras
36 páginas
Marie-Françoise DurandDOSSIÊ
GEOGRAFIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: globalização, territórios e redes na perspectiva da escola geográfica francesa
INTRODUÇÃO
A Escola geográfica francesa irradiou-se amplamente desde seu nascimento, no final do século XIX, até os anos 1960. Neste momento, sua obsolescência começa a se manifestar e resulta, em seguida, numa profunda crise de natureza teórica.
É bem verdade que um trabalho epistemológico importante vem sendo desenvolvido há trinta anos, fazendo da geografia uma ciência social que tem como objeto o conhecimento da produção e da organização do espaço. No entanto, seu campo de pesquisa é alvo de um importante processo de fragmentação, do que resulta que somente tardia e parcialmente a geografia vem se interessando pelas questões trazidas pelos processos de globalização. É importante ressaltar, porém, que conhecimentos, atualizados ou obsoletos, bem como representações mentais geográficas, são partes integrantes das visões (mais ou menos conscientes) de um mundo globalizado de outras ciências sociais, bem como das projeções de atores estatais ou não-estatais da globalização contemporânea. Assim, o debate emergente e bastante produ-
tivo entre a geografia, a ciência política e as relações internacionais, em plena evolução, permite a emergência de questionamentos comuns e de estimulantes fecundações cruzadas. Entre essas últimas, é interessante apontar a transformação das concepções de espaço nas relações internacionais, além das reflexões acerca das representações possíveis do sistema-mundo e dos processos de globalização. OS GEÓGRAFOS ANTES DA GEOGRAFIA
As interrogações sobre a totalidade terrestre encontram suas fontes na Antigüidade grega, com a obra de Eratóstenes. Depois dos parênteses obscuros da Idade Média, em que se concebe a Terra como um disco plano, o Renascimento reata com as primeiras reflexões antigas clássicas, prolongando-as. Desde esse período, os pensadores do