Politica
Fernando Resende
Introdução
A
história do espaço público é a história do espaço da criação dos sentidos.
A noção do que vem a ser o espaço público se reconfigura à medida que os sentidos também se recriam, sofrem revalorizações, permutam-se e amalgamam-se. De uma concepção praticamente física – o espaço público grego e o romano são o lugar onde o cidadão livre e os senhores feudais exercitam o poder
– a uma que, de acordo com Habermas, é compreendida enquanto conseqüência e prolongamento de relações econômicas, passa-se por outra de caráter mais simbólico – para Hannah Arendt o espaço público é o espaço das aparências.
Na sociedade contemporânea, principalmente para os franceses, entre eles
Bernard Miège, o espaço público é o que nasce das relações entre o Estado (que não é mais absoluto) e as outras formas de poder que se articulam nessa mesma sociedade. Ele é um espaço assimétrico (as novas tecnologias e os diferentes meios de comunicação ganham relevância e passam a ser o seu canal mediador), e fragmentado (o crescente número de agentes sociais que participam e se apoderam das técnicas da comunicação promovem o alargamento do espaço), sendo, por conseguinte, o campo de atuação dos “novos” sujeitos-cidadãos. O espaço público contemporâneo, assim, significa o modo como se negociam saberes e poderes, ou ainda, o modo como se articulam forças e interesses em um mundo regido pelos meios de comunicação; ele é, por tudo isso, o espaço cuja nova norma é o conflito.
No seu furor narrativo, a contemporaneidade pede, cada vez mais, que se conte histórias que ainda não foram contadas. E dessa forma, no conflituoso
ALCEU - v.5 - n.10 - p. 129 a 145 - jan./jun. 2005
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espaço público contemporâneo, as vias pelas quais se pode dar o exercício da narrativa, exatamente por se fazerem múltiplas, infinitas, ressaltam a importância de se considerar o modo como se narra e os seus sujeitos