Poesia e (música) concreta: beba coca cola
“Beba coca cola”
A Poesia Concreta surgiu a partir da segunda metade da década de 50, quando um grupo de poetas modificou totalmente a orientação estética seguida até então em suas obras. Décio Pignatari foi um dos poetas que permaneceu sendo a fonte inspiradora e teorizadora do movimento. O Concretismo combateu o único elemento da tradição que se tinha mantido: o verso. A abolição do verso representava, de um lado, a valorização da Palavra, como fundamento de expressão; e, de outro, uma busca de novas formas de expressão, que fugissem à letra. O espaço branco da página passou, então, a constituir-se como componente da obra de arte poética. Além disso, a poesia abandonou o espaço da leitura e para ser devidamente apreciada, tinha que ser vista, tocada, sentida, ouvida etc. Em suma, a poesia transformou-se em algo concreto, o poema-objeto. No poema abaixo, “Beba coca cola” (1957) de Décio Pignatari, pode-se encontrar algumas das características citadas acima: “beba coca cola babe cola beba coca babe cola caco caco cola c l o a c a”
Percebe-se no poema que existe no campo semântico a utilização de polissemia e do nonsense (sem sentido, absurdo); no campo sintático tem-se o ilhamento (ou atomização) das palavras que ficam separadas em pequenos núcleos significativos e a ruptura com a sintaxe da proposição; no campo lexical observa-se a utilização de substantivos concretos (coca-cola, caco e cloaca); no campo morfológico tem-se a utilização intensificante de alguns morfemas (be-, co-, ca-, ba-); no campo fonético observa-se figuras de repetições sonoras e os jogos sonoros, e finalmente, no campo topográfico percebe-se a abolição do verso, a não-linearidade, o uso