Poesia de Herberto Helder
Nascido no Funchal, Ilha da Madeira, em 1930, freqüentou o grupo do café Gelo, onde se reuniam Mário Cesariny, Antônio José Forte, João Vieira entre outros. A publicação do primeiro livro, O Amor em Visita, dar-se-ia em 1958; três anos depois lança A Colher na Boca e Poemacto. A partir deste ponto, Herberto Helder construirá uma poética fascinante, dando início à desarticulação de toda a tradição da poesia portuguesa. Embora esteja ligado ao surrealismo por desígnios meramente geracionais, a sua poesia demonstra que o caminho seguido distancia-se gradualmente dos postulados, ocupando vias transversais de atuação e aprofundamento. Ao afastar-se desta linha, o poeta norteia-se pela propulsão metafórica trabalhada simultaneamente com a minúcia da pesquisa e do estilhaçamento estilístico. A dispersão da escrita surrealista é substituída por uma voz encantatória. A fruição verbal atinge o equilíbrio, mas o substrato que a mantém rege-se pelo ritmo turbulento e a opacidade concentrada: "E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua estiola,/ a paisagem regressa ao ventre, o tempo/ se desfibra - invento para ti a música, a loucura do mar". Ciente da polifonia articulada, a gnose poética assume a animalidade concreta e a normalidade animal, secundando-a pela "retórica profunda" que exigia Baudelaire. A "inspiração tulmutuosa; (expressão de Maria Estela Guedes no livro H.H., poeta obscuro) do poeta deixa-se envolver por um movimento quase orgânico: "No entanto és tu que te moverás na matéria/ da minha boca, e serás uma árvore dormindo e acordando onde existe o meu sangue". O sistema verbal desta poesia traceja uma órbita ascensional, volume, espaço e tempo são descompostos pela espessura da linguagem. Não existe tempo ou espaço para