Poesia de alberto de oliveira
Era um hábito antigo que ele tinha:
Entrar dando com a porta nos batentes
— "Que te fez esta porta?" a mulher vinha e interrogava... Ele, cerrando os dentes:
— "Nada! Traze o jantar." — Mas à noitinha calmava-se; feliz, os inocentes
Olhos revê da filha e a cabecinha
Lhe afaga, a rir, com as rudes mãos trementes.
Uma vez, ao tornar à casa, quando
Erguia a aldrava, o coração lhe fala
— "Entra mais devagar..." Pára, hesitando...
Nisso nos gonzos range a velha porta,
Ri-se, escancara-se. E ele vê na sala
A mulher como doida e a filha morta. ( Alberto de Oliveira )
Vaso Grego
Esta, de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois. Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse. ( Alberto de Oliveira )
Que ânsia de amar Que ânsia de amar! E tudo a amar me ensina! A fecunda lição decoro atento, Já com liames de fogo ao pensamento, Incoercível desejo ata e domina. Em vão procuro espairecer ao vento Olhando o céu, o morro, a campina. Escalda-me a cabeça e desatina, Bate-me o coração como um tormento. E sorrindo ardente e vaporosa Por ela, a ainda velada, a misteriosa Mulher que nem conheço aflito chamo. E sorrindo-me ardente e vaporosa Sinto-a vir - vem-me em sonho, une-me ao seio Junta o rosto ao meu rosto e diz-me “Eu te amo!”. (Alberto de Oliveira)
Horas Mortas Breve momento, após comprido dia – De incômodos, de penas, de cansaço, Inda o corpo a sentir quebrado e lasso, Posso a ti me entregar, doce Poesia. Desta janela