Poemas
Poesia concreta: um manifesto
- a poesia concreta começa por assumir uma responsabilidade total perante a linguagem: aceitando o pressuposto do idioma histórico como núcleo indispensável de comunicação, recusa-se a absorver as palavras com meros veículos indiferentes, sem vida sem personalidade sem história - túmulo-tabu com que a convenção insiste em sepultar a idéia.
- o poeta concreto não volta a face às palavras, não lhes lança olhares oblíquos: vai direto ao seu centro, para viver e vivificar a sua facticidade. - o poema concreto ou ideograma passa a ser um campo relacional de funções.
O núcleo poético é posto em evidencia não mais pelo encadeamento sucessivo e linear de versos, mas por um sistema de relações e equilíbrios entre quaisquer parses do poema.
- funções-relações gráfico-fonéticas ("fatores de proximidade e semelhança") e o uso substantivo do espaço como elemento de composição entretêm uma dialética simultânea de olho e fôlego, que, aliada à síntese ideogrâmica do significado, cria uma totalidade sensível "verbivocovisual", de modo a justapor palavras e experiência num estreito cola mento fenomenológico, antes impossível.
- POESIA-CONCRETA: TENSÃO DE PALAVRAS-COISAS NO ESPAÇO-TEMPO.
Décio Pignatari Pedro Xisto
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ANÁLISES
Uma das características da poesia concreta foi à apropriação de peças publicitárias para construção de poemas. Nos versos de “beba coca cola”, poema de Pignatari, o sujeito lírico, na medida em que muda as letras de lugar, cria um novo sentido – diga-se de passagem, negativo – para o slogan da marca de refrigerantes. Desse modo, devido à essa alteração morfológica, “beba” vira “babe” e “coca”, por sua vez, torna-se “caco”. Valendo-se dos espaços vazios, o poeta, no segundo verso, forma a frase: “babe cola”, que também denigre o produto. Os recursos aludidos, empregados no decorrer do poema, alcançam força máxima com o verso final formado pelo substantivo “cloaca”. Assim, o sujeito lírico, além de desconstruir o